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Âncora 1

Fragmento 1.0

Viver é um processo doloroso, com o tempo assimilamos a dor, mas isso não significa que ela passou. 

andar dói, falar dói, respirar dói, 

a diferença é que não paramos pra sentir 

e ainda bem que não paramos.

Nós aprendemos com a dor, crescemos com ela

e meu Deus, como dói crescer.

Desde pequeno, nosso corpo aprende a conviver com a dor

e ele sempre nos prepara para uma pior do que a gente já sente

às vezes é um braço quebrado, outras um coração partido

e o nosso corpo sente e ela não passa

a gente só assimila

e é bom que dói

na hora a gente só quer morrer, mas assim, o que aconteceria se a gente não sentisse mais?

A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável

Viver é uma experiência sensorial e emocional desagradável

a nossa sorte é que há dores em que sentimos prazer

 

a nossa sorte é que há trapaças pra enganar aquilo que não costuma doer

 

a morfina foi tanta que quase a matou, mas ela já doía por 81 anos e 9 meses

se pensarmos pela idade do câncer, doeu por 12 anos

se pensarmos pela idade do diagnóstico, 3 meses

mas quando entendemos que a vida é um eterno doer e que não tem morfina que trate, foram mesmo 81 anos e 9 meses

já no meu caso, são 22 anos e 5 meses

 

me contaram que ela foi tomada por uma paz plena

que segurou a mão do seu companheiro de anos, e se declarou

o fim da dor dela foi acontecendo aos poucos, 

segundo a ciência, quando a morte está ascendendo, nós vamos perdendo o tato, o olfato, o paladar, a visão e por último a audição 

e é um presente que a natureza nos dá nesse momento

pelo menos traz conforto 

pois as últimas coisas que ela sentiu, foram as vozes de seus filhos, netos e do homem que amava

menos a minha voz, porque eu não estava lá

 

isso chega a ser irônico, 

porque quando eu era criança, eu era uma peste

vivia quebrando as coisas na casa dela, 

um dia, correndo pela sala, esbarrei num armário e ele começou a cair, minha primeira reação foi entrar na frente e segurar com meu próprio corpo

não sei se foi coragem ou se foi burrice 

porque obviamente não aguentaria

comecei a gritar, desesperado e ninguém aparecia

minha mente dramática e exagerada começou a achar que iria morrer

minhas costas doíam, minha garganta doía

 

uma hora, minutos depois pra ser sincero, ela apareceu

naquela hora eu era apenas um muleque rouco e assustado

ela me ajudou

quando vi que tudo tinha ficado bem, lembrei de uma vez que minha prima havia dito pra ela “a senhora precisa usar aqueles aparelhinho de ouvido, vó”

achei que iria soar adulto e responsável, igual a minha prima

e soltei a frase que não deveria ser repetida

 

Ela me disse nada, apenas me olhou chateada

 

e me disse nada.

 

(Silêncio)

 

Pallor mortis é o empalidecimento do corpo, geralmente ocorre uns 15 minutos depois do óbito.

 

Algor mortis é o esfriamento do cadáver, devido a falta de circulação sanguínea

 

Rigor Mortis é o reconhecimento pleno de morte, os músculos se enrijecem, o cadáver endurece.

 

Livor mortis são as manchas que surgem nos primeiros minutos do pós-morte e ganham força com o passar das horas, ficando muito visíveis entre 9 à 12 horas após o óbito.

 

bem,

 

Nem o susto pelo armário caindo

Nem o suor frio que corria pelo meu corpo

Nem a rigidez que meus músculos assumiram enquanto segurava aquele armário

muito menos as divisórias das prateleiras que ficaram marcadas nas minhas costas

 

Nada disso se assemelhava ao estado em que o corpo da dona Isabel se encontrava

 

eu a toquei

 

estava mais gélida do que aquela madrugada, mais dura que o piso daquela velha igreja

no dia do incidente do armário eu estava vivo 

porque doeu em mim, 

ela também estava viva 

porque doeu nela

 

mas agora algo estava diferente 

 

era apenas no meu peito

que a dor ardia

Fragmento 2.0


 

Som de uma possível nave espacial bem alta. 

 

Lembro-me que fechei os olhos e nessa hora eu fui pra dentro desse retângulo, era uma nave, lá dentro era tudo muito claro, tinha muito humanoide circulando e olhando pra mim, tinha também uma enorme mesa cheia de botões, parecia que eu tava dentro de um grande controle remoto de tantos botões.

 

Humanoide - Saudações Terráquia, somos os Pleiadianos! Você está dentro da nossa nave Sirius, nós te observamos a muito tempo, e chegou a hora de você conhecer suas origens e seu propósito no mundo. Sua Assinatura galáctica é “Noite Elétrica Azul”, viemos te alertar sobre a Matrix e o seu tempo 12:60 que deixa tudo deturpado, nessa frequência o tempo é dinheiro e sua missão é se lembrar disso futuramente e sair e ir para frequência onde o tempo é arte, 13:20. Futuramente você irá entender o que fizeram com o calendário gregoriano e porque não se usa mais o sincronário dos antigos Maias. Vai entender também que o tempo é cíclico e não linear, vai aprender que tudo e todos estamos conectados por vibrações que está além da capacidade humana de ver, mas se você quiser, terá esse poder de enxergar tudo que está através do véu, se alinhar com o universo e seguir sua intuição, trabalhando com o seu propósito de vida. Você não vai se lembrar de nada, vai sentir que foi um sonho, mas acredite, é a mais pura verdade! Quando encontrar o universo do Tzolkin e se permitir a explorar, vai compreender o significado do seu nome: Kin.


 

 

Kin 03

Noite Elétrica Azul

Ativo com o fim de sonhar

Vinculando a intuição

Selo a entrada da abundância

Com o tom Elétrico do serviço

Eu sou guiado pelo poder da realização

Fragmento 3.2


Este solilóquio eu dedico ao amor da minha vida, aonde quer que ele esteja (mostra passaporte). Já dizia na frase “Amo como o amor ama. Não sei razão pra amar-te mais que amar-te. Que queres que te diga mais que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?” Fernando Pessoa. Não é fácil se manter amando. Nem todos conseguem manter um amor. Eu tentei, eu juro que tentei. Eu me apaixonei uma vez, esse amor mexeu comigo e deixou várias marcas por dentro, me lembrou das vezes que eu tive diarreia. Eu não vou ao banheiro fora de casa. 

O amor é como um caroço de manga chupada, porque a manga você também chupa. Amar é: seguir com a pessoa amada, não importa a tempestade. Eu conheci ela em um desses sites de relacionamento, sabe? Esse mesmo que todos pensam: Habbo Hotel. Ela tinha o avatar mais lindo, me deu até um mobi raro. Amar é não se apegar somente aos bens materiais. O nome disso é estratégia.

Amor é troca. Uma troca que vem de dois lados. Três ou mais, no caso de poligamia. Existem amores que nem a morte consegue extinguir. Já um chifre… Victor Hugo disse uma vez “Vós, que sofreis, porque amais, amai ainda mais. Morrer de amor é viver dele”. Eu não entendi o que ele disse.

E no final das contas, por que tudo tem que girar em torno de encontrar um amor? Não encontrar seu amor não quer dizer que você é incapaz de amar, olhe a sua volta. Nada que uma vivência de acumuladora e 16 gatos não possam melhorar a sua vida. Não adianta você passar a vida toda procurando sua metade da laranja, se você é um limão azedo. Aliás, todo mundo diz que eu preciso encontrar a minha metade da laranja. Uma que me complete, mas eu não achei nenhuma que me completasse, só chupei todas e cuspi fora.

Fragmento 5.1


Afronta:
substantivo feminino
1.ato ou efeito de afrontar.

Não nos ensinam que quem nasce mulher, precisa nascer sabendo se proteger.
Na verdade, não nos ensinam muita coisa.
Qual é a idade certa para aprender o que acontece com o nosso corpo?
Eu te pergunto, por que não nos ensinam o que acontece com o nosso corpo?
Um passo em falso, quebra o salto, desmonta a princesa que te enfiaram a coroa. Agora, ela desmaquiada se pinta livre e abraça uma leoa por dia. Corre para alcançar o que lhe custa o dobro. Se te chamam bruxa, então lança feitiço, como se fosse ofensa a ordem. Quando precisa, surta, loba, uiva aos sete cantos a autonomia que denominaram histeria. Selvática, mulher, confronta seus demônios, para que possa olhá-los de frente e sobreviver para falar sobre eles. Afronta, substantivo feminino, não porque gosta, mas porque precisa. É ela, que escreve sua história, as margens, construindo a transformação que rompe os costumes e firma seu lugar no mundo. Para ter medo, basta nascer mulher. Até quando?

Fragmento 5.7

eSSE tEXTO nÃO tEM tÍTULO e tALVEZ nEM é tEXTO

MEMÓRIA

Amar o perdido

deixa confundido

este coração.

Memória contida dentro de uma Poesia escondida

Enquanto a vida gira em seu próprio eixo,

E vagueia no entorno de uma grande pedra quente,

Aqui de baixo, todos os dias quando acordamos,

Reinventamos sensações para compor nossas memórias.

Nada pode o olvido

contra o sem sentido

apelo do Não.

Quantas vezes já fez de suas lembranças cemitérios?

Para visitar, deixar flores e ir embora?

É preciso sim lavar a alma quando sobram lágrimas

Mas vez ou outra podemos guardá-las pra andar sem rumo

Dentro do nosso próprio devaneio a procurar memórias

Aquelas culpadas pela eterna projeção de expulsar o erro

As coisas tangíveis

tornam-se insensíveis

à palma da mão.

 Mas por que então a poesía escondida?

Porque os jardins precisam ser regados,

Não se colhe plantas sem enterrar sementes ou ramas.

Memórias não podem ser enterradas,

Lembranças precisam florescer,

Ser alguém é todo dia ser um novo eu.

Mas as coisas findas,

muito mais que lindas,

essas ficarão.

Carlos Drummond de andrade oU sERÁ qUE nÃO?

 

Algumas plantas não dão mais frutos ou flores,

Algumas sensações não passam de lembranças mortas ou enterradas.

A memória precisa fazer parte do vazio,

Do espaço vazio que ela mesma deixa todos os dias.

Por sorte, com carinho, o tempo vai queimando

e então podemos nos embebedar pelos poros

O único risco que se corre é o de não dizer a alguém o que precisa ser dito.

Ela disse que se foda. E se fudeu toda.

Paulo Leminski oU tAMBÉM nÃO

aos poros: leve tudo que for preciso

à grande pedra azul: que possa estar de volta no mesmo lugar pela eternidade do corpo vivo

ao cansaço: um pouco de preguiça

aos jardins: novas flores, novos frutos

a máquina: mais humanidade

ao tempo: deixe ao menos uma memória.

aos humanos: o direito de reparar a falha sem a culpa

a memória: reticências

a bebida: UM ABRAÇO

ao desejo: adeus e até mais.

Montagem | 4º ano | Artes Cênicas | UEM

Fragmentos

Trabalho proposto como montagem de formatura do 4º ano de Artes Cênicas Licenciatura em Teatro da UEM.

 

 Maio de 2021

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